Olá!

Olá! Seja Bem-vindo à Farmácia Viva!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Citronela

NOME POPULAR: CAPIM-CITRONELA
NOME CIENTÍFICO: Cymbopogon winterianus  Jowitt ex Bor
FAMÍLIA: Poaceae (Gramineae)
CARACTERÍSTICAS GERAIS
Erva aromática, com cerca  de 1m de altura, formada por folhas longas, que amassadas entre dedos liberam um forte cheiro que lembra o eucalipto-limão (Eucalyptus citriodora). As flores são raras e estéreis em nossas condições. É originária do velho mundo e cultivadas nos países tropicais. Seu cultivo permite até quatro cortes por ano, multiplicando-se por separação da touceira e replantada diretamente no campo, no espaçamento de 50x80cm.
USO
O óleo essencial e o extrato obtido por maceração de suas folhas são usados como repelentes de insetos e aromatizantes de ambientes. Sua ação se deve à presença de citronelal no óleo, que tem ação fortemente repelente e inseticida sobre vários insetos larva, larvicida para Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue e da febre amarela, adulticida para  Culex pipiens, o incomodo pernilongo conhecido também como muriçoca e contra besouros que prejudicam plantas, todas comprovadas experimentalmente. Tem também ação antimicrobiana local e acaricida, especialmente contra os microácaros da poeira do ar que são responsáveis por processos alérgicos respiratórios comuns em ambientes, através de fumigação conseguida pela queima das folhas secas a sombra ou do próprio óleo diluído no querosene de candieieros, ou por pulverização de uma solução a 20% do óleo em álcool diluído ao meio, em vaporizadores especiais.

Referencia:

HARRI, LORENZI, F.J. A. Matos, 2008  Plantas Medicinais: no Brasil:  nativas e exóticas, 2 ed.  Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum

Algumas homenagens prestadas ao Prof. Matos
































quarta-feira, 28 de março de 2012

"Santo de Casa"

 


Seara da Ciência lança coleção "Santo de Casa"
08/03/2010 - 06:00
A primeira caixa da coleção de vídeos "Santo de Casa", da Seara da Ciência, foi oficialmente apresentada na Reitoria da Universidade Federal do Ceará, no último dia 4. Composta por cinco DVDs, a coleção apresenta a vida e o trabalho de renomados cientistas cearenses.
São eles: o criador do reconhecido projeto Farmácias Vivas e Professor Emérito da UFC, Francisco José de Abreu Matos, na última entrevista antes do falecimento a 22 de dezembro de 2008; o químico Miguel Cunha, incentivador e formador de talentos científicos; Expedito Parente, engenheiro químico e desenvolvedor do biodiesel; Maria Marlúcia Santiago, professora do Departamento de Física da UFC e especialista em Datação Isotópica (processo de medição e algumas aplicações de datação por carbono-14); e Rodolpho Theóphilo, farmacêutico precursor do combate à varíola no Ceará, que tem a vida contada a partir de entrevista com o escritor cearense Lira Neto, autor do livro "O poder e a peste – A vida de Rodolfo Teófilo", de 1999.
Os vídeos serão disponibilizados, gratuitamente, no site da Seara da Ciência (www.seara.ufc.br) e distribuídos em escolas, bibliotecas e instituições públicas. A ABCMC também receberá a coleção, que será apresentada no auditório do Circo da Ciência, tradicional espaço da instituição durante os encontros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. 
O trabalho, coordenado pelo Prof. Ilde Guedes, da Seara da Ciência, foi feito em parceria com a Funcap (Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa).
Fonte: Seara da Ciência e UFC






Horto de plantas medicinais é reconhecido como horto oficial do Ceará

O Horto de Plantas Medicinais Francisco José de Abreu Matos do Projeto Farmácias Vivas da UFC foi reconhecido como o Horto Matriz do Estado do Ceará e o Horto de Plantas Medicinais do Núcleo de Fitoterápicos da Sesa como o Horto Oficial do Estado do Ceará. Esses reconhecimentos são previstos na regulamentação da Lei que dispõe sobre a política de fitoterapia, proposta do Comitê Estadual de Fitoterapia (Comef). Com a regulamentação, o Núcleo de Fitoterápicos (Nufito) da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria da Saúde do Estado acelera a implementação de programas da política de fitoterapia em saúde pública no Ceará.
O Nufito, que distribui 16 tipos de medicamentos fitoterápicos para hospitais e unidades da rede estadual de saúde, mantém o Horto de Plantas Medicinais (Horto Matriz) e a Oficina Farmacêutica para preparação de fitoterápicos. Objetivo: prestar apoio técnico-científico e capacitação de pessoal para promover a fitoterapia em saúde pública no Estado do Ceará, com a implantação de farmácias vivas nos municípios. São três modelos de farmácias vivas destinadas à instalação de hortas de plantas medicinais, à produção e dispensação de plantas medicinais secas (droga vegetal) e à preparação de fitoterápicos padronizados para o provimento das unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Secretaria de Saúde planeja a implantação de cinco Polos Regionais de Farmácias Vivas em cinco diferentes regiões do Estado para a produção e uso adequado de plantas medicinas e fitoterápicos de qualidade. Com isso pretende incentivar o cultivo de plantas medicinais pela agricultura familiar, na perspectiva de geração de renda, e realizar a formação profissional na área de Fitoterapia em Saúde Pública. Os sete cursos de capacitação ofereceidos em parceria do Nufito com a Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) e Universidade Federal do Ceará (UFC) serão ministrados de acordo com o modelo de Farmácia Viva implantado e das especificidades das atividades de cada profissional integrado ao programa, como farmacêuticos, médicos, enfermeiros, agrônomos, agentes de saúde, técnicos agrícolas, agentes rurais e estudantes.
A Relação Estadual de Plantas Medicinais (Replame) lista 30 espécies que produzem fitoterápicos indicados como tranqüilizantes, broncodilatadores, antissépticos, cicatrizantes, antiinflamatórios entre outras indicações. Plantas tradicionais da flora regional já são utilizados na produção dos fitoterápicos, entre elas babosa, capim santo, eucalipto, pau d’arco, confrei, romanzeira, malvariço, malva santa, alfavaca, aroeira, maracujá e goiabeira.

http://www.funcap.ce.gov.br/index.php/noticias/43429-horto-de-plantas-medicinais-e-reconhecido-como-horto-oficial-do-ceara-

Laboratório de Fitoterápicos Prof. Francisco José de Abreu Matos


O Laboratório de Fitoterápicos de Horizonte  produz diversos medicamentos à base de plantas medicinais como xarope expectorante, sabonete de alecrim-pimenta, cápsulas de colônia, hortelã-rasteira, cidreira, tintura de alecrim-pimenta, elixir de aroeira e creme de aroeira. Os medicamentos podem ser encontrados gratuitamente nos postos de saúde.

Endereço: Fazenda Ipu - Estrada do Dourado

E-mail: fitoterapia@horizonte.ce.gov.br


Inauguração Farmacia Viva de Parnaiba





 


HORTO DE PLANTAS MEDICINAIS:

FRANCISCO JOSÉ DE ABREU MATOS

Parceria Público Privada
O Horto de Plantas Medicinais que leva o nome do fundador do projeto foi inaugurado em Parnaíba (PI) no dia 24/03/2011 seguindo a metodologia e princípios do seu criador, o farmacêutico e professor Dr. Francisco José de Abreu Matos (in memoriam). O horto localiza-se na empresa Vegeflora em anexo ao PSF Módulo 32 e atenderá a comunidade do entorno que conta com aproximadamente 600 famílias.

Drauzio Varella e a Fitoterapia no Brasil


                 "As plantas brasileiras não curam, fazem milagres."
                             Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868)
                                                            Autor da "Flora Brasiliensis"

      Sou antropólogo e pesquisador de medicina popular e fitoterapia há vários anos no Brasil. Imaginem a surpresa e a indignação ao ler a matéria na revista Época de Agosto/2010 sobre a prática da fitoterapia no serviço público no Brasil. No entanto é necessário agradecer ao Dr. Dráuzio Varella pela iniciativa. Agora temos um representante da indústria farmacêutica com quem dialogar. Sinal dos tempos! A fitoterapia e o projeto Farmácias Vivas já começam a incomodar e a causar prejuízos à indústria farmacêutica ...
       Analisando os países mais avançados do mundo e que utilizam em grande escala os medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica, verificamos que os resultados obtidos pela medicina considerada científica são pífios. Os Estados Unidos possuem os índices de câncer de mama e de próstata mais elevados do mundo. Em 1993 haviam nos EUA, 8 milhões de diabéticos, uma das mais altas do mundo. Com relação às doenças cardio-vasculares também os americanos são campeões. Nesse país onde se utiliza a “medicina de rico”, no entender esclarecido do Dr. Dráuzio Varella, os pacientes são tratados com medicamentos de última geração e equipamentos modernos de alto custo. Investe-se muito em medicina e quase nada em saúde da população.
       Por outro lado, nos países onde se pratica a “medicina de pobre”, para citar novamente o ilustre médico Dr. Dráuzio Varella, os índices de doenças degenerativas, tais como, cânceres, doenças cardio-vasculares, diabetes, são baixíssimos. Nos EUA, ocorrem 120 casos de câncer de mama por 100.000 habitantes, enquanto na China apenas 20.
       Inclusive as imigrantes chinesas que vivem nos Estados Unidos, acabam atingindo os índices absurdos e epidêmicos da população americana. Em São Francisco, a cada ano surgem 160 casos de câncer de mama por 100.000 habitantes que migraram da cidade de Xangai, na China, enquanto, na mesma faixa etária, as que permaneceram, apenas 40 casos surgiram da mesma doença.
Portanto a medicina avançada dos países do primeiro mundo não colabora em nada para promover a saúde de seus habitantes. Por que então importarmos a mesma medicina que não se preocupa com a promoção da saúde e que parece considerar a doença um negócio melhor do que a saúde?
       O que diferencia as populações dos países asiáticos é a prática de terapêuticas de origem milenar: fitoterapia, acupuntura, shiatsu, assim como os medicamentos alopáticos, sempre que necessário.
       Portanto, Dr. Dráuzio Varella, que modelo de medicina devemos escolher e utilizar no tratamento das doenças da população brasileira de baixa renda? O modelo americano ou o asiático? Como confiamos na sua boa formação matemática e que as estatísticas epidemiológicas não são mentirosas, o melhor caminho para o Brasil forçosamente terá que ser o modelo asiático.
       Mesmo sabendo que todos os profissionais da saúde, pesquisadores, fitoquímicos, fitofarmacologistas, etnobotânicos, farmacêuticos, fitoterapeutas e antropólogos da saúde são ignorantes, segundo a douta opinião do Dr. Dráuzio Varella, acreditamos que um dia vamos conseguir atingir os índices baixos de morbidade obtidos atualmente pelos países asiáticos.
       Para melhorar o nível de nossos profissionais, pesquisadores da área de plantas medicinais, basta que o próprio governo aumente as verbas para pesquisa com plantas medicinais, que há séculos vem sendo utilizadas sem nenhum apoio do governo no tratamento de seus problemas de saúde pela população pobre, sem recursos, que conta apenas com a experiência de seus ancestrais para tratar de suas doenças. Esta é a realidade da nossa população humilde de interior, cujos serviços de saúde, todos sabemos, são precários e péssimos.
       Imagine o Dr. Dráuzio Varella, se a população simples do interior não possuísse nenhum conhecimento da ação das plantas medicinais. Se toda vez que alguém adoecesse tivesse que procurar o serviço de saúde de seu município. Imagine o caos que seria. Em primeiro lugar, porque a maioria dos médicos está concentrada nas capitais dos estados. Em segundo lugar, porque na medida em que nos afastamos dos grandes centros, os recursos na área da saúde diminuem. E por isso faltam medicamentos, faltam leitos de hospital, faltam médicos e enfermeiros. Ainda assim os poucos profissionais que existem no interior foram mal formados na faculdade. As faculdades atualmente se preocupam em formar médicos especialistas em monitoramento de UTI’s. Enfim são formados para exercer a “medicina de rico”. São pouquíssimos os médicos clínicos disponíveis capacitados para receitar fitoterápicos, mesmo porque não se estuda fitoterapia nas faculdades de medicina no Brasil! E muito menos dispomos de faculdade de fitoterapia, tais como, as que existem na Inglaterra, na França, na Índia, na China.
       Não estranhamos, portanto que o Dr. Dráuzio Varella, tenha encontrado muita ignorância nos projetos de Farmácias Vivas estabelecidos em diversas regiões do país. Há, na verdade, uma carência muito grande pesquisas na área de plantas medicinais no Brasil, para um país com as dimensões do Brasil. Merecia que se pesquisasse muito mais e se investisse mais no setor. Por outro lado, a ignorância encontrada pelo ilustre médico não é decorrente do descaso ou por falta de amor pelo paciente. Além de não ter recebido nenhuma informação, e, muito menos formação, na faculdade onde estudou, o médico que atua nos atendimentos fitoterápicos não dispõe de nenhum apoio logístico. Para praticar a fitoterapia as informações são escassas e mesmo as pesquisas que a Universidade brasileira promove, que o Dr. Drázio Varella, se referiu com tanto desprezo, dificilmente chegam ao seu conhecimento.
       Portanto tudo o que o douto Dráuzio Varella considera idiotices são deficiências que ocorrem em um país que até hoje escolheu o modelo da “medicina rica” que promove a doença e não investe na saúde da população. Ao acusar um médico que receita fitoterápicos de idiota, porque não conhece farmacologia, teria que acusar também os demais médicos brasileiros que também não conhecem, porque todos sabemos que a farmacologia moderna é uma caixa preta, cujo conhecimento é de domínio exclusivo dos grandes laboratórios. Para o médico chega apenas a bula dos medicamentos...
       Mas agora sabemos que o único cidadão brasileiro que não é idiota e que sabe farmacologia em profundidade é o Dr. Dráuzio Varella, porque provavelmente recebeu informações confidenciais dos grandes laboratórios e pode falar com conhecimento de causa. Como percebeu a deficiência na formação dos médicos que entrevistou, vai agora colaborar e esclarecer e orientar os idiotas, profissionais de saúde, que atuam nos projetos de Farmácias Vivas, idealizado pelo provavelmente também idiota, Dr. Francisco José de Abreu Matos, farmacêutico químico e professor da Universidade Federal do Ceará, infelizmente falecido em 2008. Se estivesse vivo com certeza explicaria as dificuldades para desenvolver e implantar o projeto de Farmácias Vivas no Ceará, com uma experiência profissional de 50 anos.
       Sabemos que, segundo o Aurélio, idiota é um indivíduo pouco inteligente, estúpido, ignorante, imbecil e em alguns casos, até mesmo, uma categoria psiquiátrica, a idiotia. Portanto não consideramos correto e muito menos ético, considerar idiotas inúmeros profissionais da área da saúde, que atuam nos projetos de Farmácias Vivas no Brasil. As deficiências por ventura encontradas pelo ilustre médico deveriam, com certeza, ser avaliadas, mas evidentemente com o respeito que qualquer indivíduo merece, independente de sua formação intelectual.
       Quanto à experimentação dos fitoterápicos, a que o Dr. Drázio Varella se referiu, gostaríamos de questionar porque inúmeros medicamentos alopáticos são proibidos e retirados do mercado, após causar inúmeros danos aos pacientes. Por acaso a talidomida que gerou inúmeras crianças defeituosas no mundo inteiro foi submetida a experimentação científica antes de ser colocada á venda no mercado? Quantos aditivos e demais produtos químicos são colocados no mercado, expondo seres humanos e seres vivos aos seus efeitos cancerígenos que somente são percebidos depois que contaminaram todo o planeta. Basta lembrar dos PCB’s, os bifenilos policlorados, óleo conhecido no Brasil como ascarel, que quando foram produzidos em 1929 não se sabia nada de seus efeitos altamente nocivos para os seres vivos e para o meio ambiente. Sua fabricação foi proibida em 1976, mas os efeitos maléficos cumulativos e persistentes que atingiram toda a cadeia alimentar do planeta, não.
     A contaminação continua até os dias de hoje e, provavelmente o ilustre médico Dr. Dráuzio Varella também deve estar contaminado com PCB’s, o que explicaria sua atitude pouco ou nada cortês com demais indivíduos de sua espécie. Este é apenas um trágico exemplo, mas existem mais de 800 aditivos químicos ainda não estudados utilizados na fabricação de alimentos. São proibidos apenas quando, após experiências com animais, se descobre que são cancerígenos. Nesse caso, as cobaias não foram os pobres camondongos, foram os seres humanos que, sem serem consultados, foram submetidos à experimentação.
       Também consideramos necessário experimentar previamente as plantas medicinais. Os ensaios toxicológicos são evidentemente necessários, inclusive para estabelecer uma posologia adequada para um possível atendimento fitoterápico. Por outro lado, a etnobotânica e a antropologia da saúde fornecem uma contribuição muito importante para a ciência ao estudar o conhecimento de raizeiros e pajés indígenas que conhecem os efeitos de cada planta a partir da experiência recebida de seus ancestrais e da utilização da planta por si mesmo. Podemos dispor desse modo de uma informação preciosa a respeito de plantas potencialmente tóxicas e perigosas. Na verdade tudo o que sabemos de cada planta considerada medicinal, tem origem na medicina popular, indígena, ou através dos conhecimentos trazidos pelas etnias africanas introduzidas no Brasil como escravos desde o início do processo de conquista e colonização do Brasil.
      Na verdade todas as plantas medicinais estudadas pela Universidade no Brasil são oriundas da medicina popular. Não existe nenhuma planta medicinal cujo conhecimento não seja difundido entre a população. Portanto quem decide o que estudar em termos de ação medicinal, são os intelectuais existentes nas comunidades simples do interior brasileiro, os raizeiros, os mateiros, as parteiras, os rezadores, os umbandistas, os curadores de cobra, etc. São eles que informam aos etnobotânicos e antropólogos da saúde o que vale a pena estudar no reino vegetal. Se não fosse assim porque a Universidade iria formar etnobotânicos, etnofarmacologistas, especialistas em estudar o pensamento médico popular, com o objetivo de encontrar plantas, com grande potencial terapêutico. E tal fato vem acontecendo no mundo inteiro. A planta medicinal, Stevia rebaudiana foi descoberta pelos índios guarani do Paraguai e classificada pelo cientista suíço Moisés Bertoni. Pois bem, a estévia é um adoçante 300 vezes mais potente do que o açúcar de cana e não produz diabetes. Não por acaso foi proibido o seu uso nos Estados Unidos!
      Assim necessitamos cada vez mais reduzir nossa ignorância aprendendo com quem sabe: os praticantes da medicina popular, porque ninguém é totalmente sábio ou totalmente ignorante. O acesso ao saber é um processo contínuo de busca e por isso para deixar de ser ignorante é necessário trilhar sempre o caminho da pesquisa e humildemente reconhecer que, mesmo quando avançamos, sabemos apenas que sabemos pouco ou quase nada.
       Entretanto quando julgamos os que realmente pesquisam e buscam o conhecimento, totalmente ignorantes e idiotas, estamos reconhecendo que nada sabemos do que necessita ser conhecido.
       Pelo menos o Dr. Dráuzio Varella reconheceu que o atendimento fitoterápico é profundamente diferente do atendimento alopático. O médico fitoterapeuta escuta durante muito tempo as queixas e o histórico do paciente e faz uma anamnese correta e completa. Nenhuma novidade nisso. Todo médico deveria fazer isso. “O doente vai ao médico e ele nem olha na cara”, segundo o Dr. Dráuzio Varella. Realmente esta é a realidade da “medicina de rico” aplicada ao pobre. O médico de formação alopata não olha o paciente, porque não necessita individualizar o paciente, basta receitar um analgésico ou antibiótico qualquer, para despedir seu paciente. Este é o modelo que o Dr. Dráuzio Varella defende em sua entrevista. Parabéns pela inteligência do Dr. Dráuzio Varella!.
Bibliografia Consultada
LORENZI, Harri & Francisco José de Abreu Matos:
2008 - Plantas Medicinais no Brasil Nativas e Exóticas - Ed. Plantarum - Nova Odessa - 576 p.

ALMEIDA, Eduardo & Luis Peazê:
2007 - O Elo Perdido da Medicina - Ed. Imago - Rio de Janeiro - 250 p.

SERVAN-SCHREIBER, David:
2008 - Anticâncer - Prevenir e Vencer Usando nossas Defesas Naturais - Ed. Objetiva - Rio de Janeiro - 284 p.
 
COLBORN, Theo, Dianne Dumanoski e John Peterson MYERS:
2002 - O Futuro Roubado - L&PM Ed. - Porto Alegre - 354 p

Douglas Carrara
Enviado por Douglas Carrara em 18/08/2010
Reeditado em 24/09/2010
Código do texto: T2444563

Herbário da UVA recebe o nome do Prof. Matos


HUVA
Nome: Herbário Francisco José de Abreu Matos
Fundação: 1999
Curador(a): Marlene Feliciano Mata
E-mail: herbario.uva@uvanet.br
Acervo: 15.000 espécimes
Número de exemplares-tipo:
Coleções importantes: Briófitas; Araceae; Fabaceae: Rubiaceae Carpoteca; plantas medicinais
Especialistas (Especialidade): Elnatan Bezerra de Souza, Taxonomia de Agiospermas, Taxonomia de Rubiaceae; , Ivanilza Moreira de Andrade, Taxonomia de Angiospermas, Taxonomia de Araceae, Marlene Feliciano Mata, Taxonomia de Angiospermas, Taxonomia Fabaceae - Mimosoideae
Periódico Associado:
Instituição: Universidade Estadual Vale do Acaraú
Departamento e/ou Instituto: Centro de Ciências Agrárias e Biológicas
Endereço: Av. da Universidade, 850 Bairro Betânia, Sobral-CE. CEP 62040-370
Rua: Av. da Universidade,
Número: 850
Complemento:
Bairro: Betânia
Cidade: Sobral
Cep: 62040-370
Estado: CE
Telefone: (88) 3611.65.73
Fax:
Homepage: www.uva.ce.gov.br
Data da ultima atualização: 21/09/11
Programa utilizado na informatização: Excel e Brahms
Em Informatização: Sim

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Medicina popular obtém reconhecimento científico

FARMÁCIAS-VIVAS

 O uso de ervas medicinais, muitas delas cultivadas no fundo do quintal, é uma prática secular baseada no conhecimento popular e transmitido oralmente, na maior parte das situações. É difícil encontrar alguém que não curou a cólica infantil com camomila ou erva-doce ou o mal estar de uma ressaca com chá de folhas de boldo, sem qualquer receita médica. Numa população com baixo acesso a medicamentos, como a brasileira, agregar garantias científicas a essa prática terapêutica traz variadas vantagens.

Esse é o objetivo do Projeto Farmácias-Vivas, criado em 1983 pelo farmacêutico Francisco José de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará. O projeto é direcionado para a saúde pública, cujas plantas permitem, hoje, o tratamento de aproximadamente 80% das enfermidades mais comuns nas populações de baixa renda. A mais recente Farmácia-Viva instalada em outubro último em Viçosa, é capaz de atender também os municípios vizinhos, na Serra da Ibiapaba. Duas outras preparam-se para começar a atuar em Caucaia e Umirin, também municípios cearenses.

 Abreu Matos explica que 64 espécies de plantas medicinais disponíveis no nordeste já foram selecionadas e tiveram seu uso analisado cientificamente, de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde.

A escolha das plantas inicia-se a partir de um levantamento etnobotânico, seguido do levantamento bibliográfico e experimentação em laboratório. As informações geradas são organizadas em um banco de dados e, posteriormente, sua eficácia e segurança terapêuticas são avaliadas. Nessa fase, as variedades coletadas no campo são levadas para um horto de plantas medicinais, localizado no campus da UFC, onde passam pelo processo de domesticação e preparação de mudas, sob a orientação de um agrônomo, para mais tarde serem cultivadas nas hortas de cada farmácia-viva.

Nas farmácias-vivas, os medicamentos são preparados em laboratório de fitoterápicos sob responsabilidade de um farmacêutico especialmente treinado. Para sua administração, o princípio ativo é mantido nas plantas (e não isolado como faz a indústria farmacêutica) na forma de chás, xaropes, tinturas e cápsulas gelatinosas.

Entre os fitomedicamentos usados com eficiência já comprovada cientificamente, o pesquisador cita a tintura e o sabonete líquido de alecrim-pimenta (Lippia sidoides), preparações de elevado poder anti-séptico; o creme vaginal de aroeira-do-sertão (Myracrodruom urundeuva), usado com sucesso no tratamento de cervicite e cervicovaginite; assim como o elixir de aroeira, de ação semelhante às preparações de espinheira-santa, para tratar gastrite e úlcera gástrica e as cápsulas de hortelã-rasteira (Menthax villosa) eficiente medicamento contra amebíase, giardíase e tricomoníase.

Os bons resultados das farmácias-vivas motivaram o governo cearense a criar o Programa Estadual de Fitoterapia, nos moldes do projeto, que é hoje aplicado em cerca de 30 comunidades do interior, como complemento do Programa Saúde da Família (PSF). O projeto das farmácias-vivas está presente, também, em Brasília e nos municípios de Picos, no Piauí e Altamira, no Pará.

O pesquisador cita dois estudos recentes: com o melão-de-são-caetano (Momordica charantia L.), e com a planta antidiabética que é designada pelo nome de insulina-vegetal (Cissus cicyoides).

 Germana Barata

©  2012  Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

cienciaecultura@sbpcnet.org.br

legado do Professor Francisco José de Farmácias Vivas Abreu Matos

Na sua curta existência, o Brasil é um país carente de ídolos, muitas vezes alçados à condição de heróis pelas características peculiares relacionadas ao apelo popular de suas atividades e virtudes, sendo a maioria dos exemplos oriunda das práticas esportivas, poucas vezes relacionadas à cultura, artes ou mesmo à ciência. Na academia, esta carência de valores é ainda mais sentida, quando agora a Universidade Federal do Ceará (UFC) perde de seu convívio cotidiano, na data 22 de dezembro de 2008, um de seus maiores expoentes: o professor Francisco José de Abreu Matos.
Farmacêutico por vocação, professor por profissão, graduou-se em 1945 pela UFC. Doutor em Farmácia, livre-docente, professor emérito, títulos acadêmicos e honrarias que revelam apenas um pouco de sua trajetória. Na verdade, todos embutidos na história de dedicação e total entrega ao trabalho universitário, num verdadeiro caso de transmutação entre nome e atividade, pessoa e trabalho, indivíduo e obra. Impossível pensar no nome Abreu Matos e não associá-lo às plantas medicinais. Seu legado é base para a continuidade da própria existência de vários setores da UFC. Por isso, o termo “ídolo” usado para definir sua importância não constitui qualquer exagero semântico por várias razões.

Autor de centenas de artigos científicos e dezenas de livros voltados para o estudo químico, farmacológico e agronômico de plantas medicinais, constituiu-se numa das maiores autoridades no tema, com repercussões nacionais e internacionais. Possui seu nome registrado nas famosas coleções do herbário britânico Kew Garden, nas quais encontramos alusão à espécie Croton regelianus var. matosii, em sua homenagem, fruto do trabalho com seu inseparável companheiro e botânico, Afrânio Fernandes. Juntos, desbravaram, ao longo de vários anos, o interior do Nordeste brasileiro em busca de espécimes de plantas nativas que foram devidamente identificadas e catalogadas no herbário Prisco Bezerra da UFC. Desse esforço, surgiram e desenvolveram-se vários grupos de pesquisa em diferentes setores da UFC com forte tradição no estudo de plantas medicinais.

Professor Matos formou vários Mestres e Doutores e inspirou diversas pessoas da UFC, e muito mais fora dela. A ele devemos a criação do que se chama Projeto “Farmácias Vivas”, praticamente seu sobrenome, num trabalho que promove a utilização correta, baseada em dados científicos, de plantas e seus extratos para o alívio de diversas enfermidades. Muito além de suas observações científicas, ressalta-se o alcance social dessa iniciativa, sendo a idéia hoje copiada por muitas instituições, cidades, estados, como forma de baratear o acesso à saúde. Outra importância desse trabalho é o resgate das tradições etnofarmacológicas de nossa população.

Ainda em vida foi reconhecido por meio de diversos prêmios como o da Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, da Medalha Dr. Periguary de Medeiros e o troféu Sereia de Ouro. Recebeu comendas do Governo do Estado do Ceará, da Prefeitura Municipal de Fortaleza e de outros municípios cearenses. Também foi instituído, por lei municipal em Fortaleza, o dia da Planta Medicinal, 21 de maio, data de seu aniversário. Certamente uma justa homenagem.
Assim, não podemos deixar de registrar nossa despedida ao Professor Matos pelo convívio acadêmico, pelos exemplos e ensinamentos deixados, nosso ídolo que agora nos guia em outra dimensão.


Prof. Pedro Jorge Caldas Magalhães
Departamento de Fisiologia e Farmacologia
Faculdade de Medicina
Universidade Federal do Ceará

Homenagem da Dra mary Anne ao Prof.Matos

Um dia, um pesquisador das plantas medicinais,
Feito um semeador, teve uma idéia genial!
Após percorrer anos por nossas terras,
Entre caatingas, matas e serras,
Colheu do povo a informação,
E fez das nossas plantas uma solução:
Uniu o popular, a ciência e a vida,
Idealizou assim o Projeto Farmácias Vivas.
O idealizador uniu as plantas medicinais
Em um grande jardim
Com os nomes das espécies escritos em latim,
E todas foram organizadas
Com eficácia e segurança terapêuticas comprovadas.
O idealizador fez as Farmácias Vivas para o povo,
Uma idéia que brotou em solo fértil,
A planta medicinal do povo para o povo,
Para curar a dor de quem não tem remédio,
O idealizador nos uniu em um só pensamento,
Como uma árvore de grande porte,
Fez a gente ser mais gente,
E a planta medicinal um elo forte.

O idealizador fez das plantas medicinais
Um meio para educar:
Para as comunidades leva-se a informação,
E quem educa também aprende
A ver em cada, um irmão.
O idealizador para o mundo deu exemplo,
E de todos ganhou respeito,
E como um homem especial,
O dia em que nasceu,
Passou a ser o dia da planta medicinal.

Mary Anne Medeiros Bandeira

sexta-feira, 16 de março de 2012

Professor Matos a transcendência do gênio e entrevista da Dra. Mary Anne

(Ele nos ensinou a ver e a amar não só as plantas medicinais em si, mas o homem que faz
uso delas).
Ele não era um quixote, não vislumbrava descobrir a panacéia, nem encontrar plantas que curassem doenças sem tratamento. Aquele homem sereno e pleno de humanidade tinha a mente focada mesmo era no exequível. Assim, movido pela energia da praticidade, ele buscou obsessivamente nada mais que aproximar o homem daquilo que é um dos seus elos com a natureza – e um tanto perdido, nestes tempos modernos – para tratar as suas próprias doenças: as plantas medicinais. Para tanto, foi buscar o fio desse elo justamente onde ele ainda é vigoroso: o conhecimento popular. O sujeito destes e muitos outros atributos é o farmacêutico Professor Dr. Francisco José de Abreu Matos, ou apenas PROFESSOR MATOS, como o mundo passou a conhecer e a reverenciar um dos mais importantes cientistas do segmento de plantas medicinais e fitoterápicos. No dia 22 de dezembro de 2008, ele morreu, deixando uma legião de seguidores e admiradores a quem cabe continuar a sua inestimável obra. Pelo

Exequível para o Professor Matos era buscar nas plantas já consagradas pela cultura popular o remédio, no plano da atenção básica, que pudesse tratar um vasto elenco de doenças que acomete a população brasileira. Mas se foi movido pela energia do que é prático e factível, Matos, por outro lado, nutriu-se de outra força: a do amor ao próximo. Aquele homem culto, de gestos leves e com ar de anjo elegeu em seu coração a fraternidade como o princípio e o fim do seu interminável esforço para criar, no Brasil, uma consciência e uma cultura do poder das plantas medicinais. Mas um poder que fosse de todos, em benefício de todos. Ele transcendeu as questiúnculas materiais, econômicas e jamais alimentou o desejo de fazer fortuna com os seus estudos, ainda que fosse ele um dos mais respeitados estudiosos de plantas medicinais, no mundo. Por isso, ele era tão especial. Farmacêutico-químico formado pela Faculdade de Farmácia do Ceará, em 1945, foi um dos fundadores da Universidade Federal do Ceará (UFC). Filho, neto e bisneto de farmacêuticos, Matos era doutor em Farmacognosia, livre-docente e professor emérito. Aposentou-se, em 1980, depois de 37 anos de serviço prestado à UFC, mas a sua idéia obsessiva de
construir algo relacionado a plantas que pudesse melhorar a qualidade de vida das pessoas não o deixou parar de trabalhar. Foi assim que ele criou, na UFC, o que veio a ser a menina dos seus olhos e que tem repercussão internacional: o Projeto Farmácias Vivas. Revolucionário, de imensurável voltagem social e sentido científico, o Farmácias Vivas promove a utilização correta de plantas medicinais e seus extratos, baseada em estudos científicos, com o objetivo de tratar diversas doenças. O projeto serviu de modelo para a criação, pelo Ministério da Saúde, da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, adotada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Antes, a idéia do Farmácias Vivas já havia se espalhado por Municípios cearenses e de outros Estados, abrindo espaço para o resgate das tradições etnofarmacológicas da população nordestina. Assim, surgiram os programas municipais e estaduais de fitoterapia, implantados junto às Secretarias de Saúde e às comunidades organizadas. O Professor Matos recebeu homenagens e integrou organizações científicas, no mundo inteiro. Foi membro da Academia Nacional Cearense de Ciência, da Academia Cearense de Farmacêuticos e da Academia Nacional de Farmácia da França, além de outras. Entre as homenagens, está a Comenda do Mérito Farmacêutico, concedida pelo Conselho Federal de Farmácia, e a da Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Recebeu, ainda, comendas dos Governos do Ceará e de Fortaleza que, aliás, instituíram, por lei, o Dia da Planta Medicinal – 21 de maio -, data do seu aniversário.  O homem simples e feliz que amava todas as expressões de vida do planeta como “criaturas de Deus”, passou a aplainar os fundamentos de sua obra, andando, durante 40 anos, pelo sertão nordestino e coletando, ali, informações sobre plantas medicinais em torno das quais já estava cristalizada uma cultura popular sobre o seu uso. Em seguida, passou a catalogá-las. Fez as  incursões nordestinas em companhia do botânico Dr. Afrânio Fernandes, professor do Departamento de Biologia da UFC. A ele, chamava de “meu amigo-irmão”. Matos estudava as plantas à luz de suas propriedades medicinais; Afrânio as identificava do ponto de vista da botânica. O trabalho resultou no registro do nome do farmacêutico cearense nas notáveis coleções do herbário britânico Kew Garden. Nelas, se encontra a espécie Croton regelianus var. matosii, em sua homenagem. Uma das pessoas mais próximas e seguidora do O Professor Matos foi casado, durante 57 anos, com Maria Eunice. Tiveram três filhos, 11 netos e um bisneto. Os muitos compromissos jamais afastaram o farmacêutico de sua família. Ao contrário, mantinha-a agregada em torno de sua alegria, sabedoria e carinho. E era um apaixonado por crianças. Uma das pessoas mais próximas e seguidoras do Professor Francisco José de Abreu Matos é a farmacêutica Mary Anne Medeiros Bandeira. Depois da morte de Matos, coube-lhe assumir a coordenação do Projeto Farmácias Vivas, instalado na Universidade Federal do Ceará.

ENTREVISTA
“Ele me ensinou a compreender a complexa filosofia do Projeto, e me treinou para o mesmo”, explica Mary Anne. Para ela, o grande legado de Matos foi levar as pessoas a ver e a amar não só as plantas em si, mas as pessoas que fazem uso delas. Mary Anne é natural de Iguatu (CE). Possui mestrado e doutorado na área de Química Orgânica de Produtos Naturais, tendo por orientador o Dr. Matos. É professora de Farmacognosia da Faculdade de Farmácia da UFC, Supervisora do Núcleo de fitoterápicos da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e uma das herdeiras da filosofia do gênio cearense. A revista PHARMACIA BRASILEIRA entrevistou Mary Anne para saber mais sobre a vida e obra do Dr. Matos. Veja a entrevista.
PHARMACIA BRASILEIRA - O que foi mais marcante na personalidade do Professor Matos?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– Ele era uma pessoa tranquila, muito alegre, comunicativo, amiga e de uma honestidade comovente. Estava, o tempo todo, manifestando preocupação com a natureza e com o ser humano. No horto de plantas da Universidade Federal do Ceará, ele atendia, com a mesma alegria e entusiasmo, tanto ao colegial humilde, quanto ao cientista internacionalmente renomado. Quiçá não atendesse com mais felicidade ao colegial humilde. Era, portanto, um ser humano leve, sereno, bondoso e tudo o que compunha a sua personalidade era marcante.
PHARMACIA BRASILEIRA – Qual foi a base da construção do conhecimento do Professor Matos sobre plantas medicinais, algo tão grande a ponto de ele se tornar um cientista mundialmente respeitado nessa área?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– O Professor Matos começou a formar a base do seu conhecimento, andando pelo sertão nordestino e coletando, ali, informações sobre o uso das plantas medicinais utilizadas pela população. Depois, catalogou todas elas. Essas viagens, ele fez na companhia do botânico Dr. Afrânio Fernandes, professor do Departamento de Biologia da UFC, a quem ele chamava de “meu amigo-irmão”. O Professor Matos tratava das plantas do ponto de vista de suas propriedades medicinais atribuídas pela comunidade, e o Dr. Afrânio fazia a sua identificação botânica. Eles dois tinham muitos casos para contar juntos sobre essas andanças, que foram o início de todo o trabalho do professor Matos.
PHARMACIA BRASILEIRA – Quantas plantas o Professor Matos catalogou?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– Foram várias. Mas ele só disponibilizava à população informações sobre plantas validadas, cientificamente. Nesse caso, foram 106 plantas validadas e inscritas na última edição do seu livro intitulado “Plantas Medicinais”.
PHARMACIA BRASILEIRA – Quais as principais indicações terapêuticas dessas plantas?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– O Professor Matos focou todo o seu trabalho na atenção básica. As plantas são indicadas, por exemplo, para casos de dermatomicoses, como o alecrim-pimenta (Lippia sidoides), que tem efeito rápido e eficaz. Ela possui uma substância chamada timol, responsá vel pelo seu poder anti-séptico.
Para infecções respiratórias, temos cumaru (Amburana cearensis Allemão) e chambá (Justicia pectoralis var. stenophylla Leonard), ricas em cumarinas, que são broncodilatadoras e antiinflamatórias. Como cicatrizante e antiinflamatória, há a aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva Allemão), rica em chalconas diméricas e taninos; como calmante, temos a erva-cidreira (Lippia alba Mill.), Quimiotipo II, que possui um óleo essencial rico em citral e limoneno; contra a herpes, temos a cajazeira (Spondias mombin Jacq.) cujas folhas possuem taninos elágicos; para a azia e malestar
gástrico, há a malva-santa  ou falso boldo (Plectantus barbatus Andr.), que possui óleo essencial e princípios amargos; para giardíase e amebíase, existe a hortelã- rasteira (Mentha x villosa Huds), rica em óleo essencial que produz até 90% de óxido de piperitenona. Há, ainda, muitas outras plantas, cada qual com as suas indicações.
PHARMACIA BRASILEIRA – O projeto Farmácias Vivas serviu de inspiração e base para a construção da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos pelo Ministério da Saúde e adotada pelo SUS. Fale sobre isso.
Mary Anne Medeiros Bandeira
– O Município que vai implantar o projeto Farmácias Vivas recebe todas as informações sobre o uso terapêutico das plantas medicinais e as mudas autenticadas para a  organização do seu próprio horto, orientação de como organizar oficinas farmacêuticas para a preparação dos fitoterápicos. Além disso, o projeto treina os profissionais dos Municípios para que eles realizem as suas ações com embasamento técnico e científico. Tudo isso constituiu  um modelo para a Política de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde.
PHARMACIA BRASILEIRA – O legado, tão grande e importante, deixado pelo Professor Matos pode correr algum risco de se perder?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– Não, não corre este risco, porque o Professor Matos deixou muitos discípulos e todos eles estão multiplicando, com muito empenho, o seu legado. O Professor Matos plantou a sua semente num solo muito fértil.
PHARMACIA BRASILEIRA – O projeto Farmácias Vivas recebe apoio governamental?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– Apoio financeiro, não. O projeto está implantado dentro da Universidade Federal do Ceará – e isso é um apoio – e sobrevive de doações de instituições nacionais e internacionais.
PHARMACIA BRASILEIRA – Qual é o olhar oficial sobre o Farmácias Vivas?
Mary Anne Medeiros Bandeira
– Em 1999, foi promulgada a Lei da Fitoterapia em Saúde Pública do Estado do Ceará. Em 2008, o Comitê Estadual de Fitoterapia, coordenado por mim e presidido pelo professor Matos, por meio do Núcleo de Fitoterápicos da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, regulamentou essa Lei. Agora, estamos aguardando o ato de assinatura do decreto de regulamentação do Governador. A regulamentação reconhecerá o Horto de Plantas Medicinais Professor Francisco José de Abreu Matos como o horto matriz do Estado do Ceará. No Ceará, portanto, há um olhar oficial positivo sobre o projeto Farmácias Vivas. Vale acrescentar
que há 38 unidades de Farmácia Vivas instaladas em diferentes Municípios do Estado, com o apoio do referido Núcleo.
PHARMACIA BRASILEIRA – Dra. Mary Anne, diante de tudo o que falamos, qual é o maior legado do Professor Matos.
Mary Anne Medeiros Bandeira
– A Farmácia Viva é uma grande escola e um grande exemplo para o mundo. É um marco histórico para o Brasil e modelo para todos os países, principalmente os subdesenvolvidos. O professor Matos deixou um acervo de informações tão grande, que eu nem sei quantas gerações serão necessárias para esgotá-las. Mas o seu grande legado é mesmo o que ficou gravado na memória das pessoas que conviveram com o Professor. Ele nos ensinou a ver e a amar não apenas a planta medicinal em si, mas o homem que faz uso dela.
jornalista Aloísio Brandão,  editor da revista  Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2009

http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/69/043a046.pdf